A formação do capitalismo moderno

Ricardo Bergamini

 

No início da Idade Moderna, uma série de profundas transformações econômica e social desbarata a acanhada e estática economia medieval, e dão origem ao capitalismo: é o que se costuma denominar Revolução Comercial.

Histórico.

Na Antigüidade – regimes autocráticos e de escravidão – as riquezas achavam-se, exclusivamente, em poder dos nobres e das castas sacerdotais. Na Idade Média, a riqueza continuou em mãos das classes privilegiadas: nobres e membros do alto clero (senhores feudais).

Surgiram, então, os banqueiros, que se foram tornando cada vez mais poderosos. Esta já é uma classe tipicamente capitalista, pois vive da renda do seu capital, aplicado em empréstimos. Todavia, a riqueza oriunda da agricultura e da indústria continua a ser o monopólio dos senhores feudais (civis e eclesiásticos). Eles possuem as terras e os meios de produção (os grandes maquinários agrícolas: moinho de trigo, forno, destilaria de azeite, lagar de vinho). Os senhores feudais mantêm os artesãos e os camponeses – em regime de servidão.

Nos últimos tempos medievais, a ruína de muitos senhores feudais (Cruzadas, guerras), o regime corporativo e as atividades industriais e comerciais dos servos emancipados, agrupados nos “burgos” – fizeram surgir uma nova classe, a burguesia, cada vez mais rica e poderosa.

Definição e características.

O capitalismo é um sistema de produção, distribuição e troca, em que a riqueza acumulada é aplicada por proprietários particulares com objetivos de lucro. O capitalista possui sobras de riqueza que pode empregar, isto é, capitais a aplicar. Suas características essenciais são: a empresa privada, a competição pelos mercados e as transações comerciais com fins lucrativos. Também inclui o sistema de salários, como método de pagamento dos trabalhadores; este método baseia-se na competição individual (para arranjar emprego), na oferta e procura da mão-de-obra, na legislação e nos movimentos trabalhistas, etc.

Causas do aparecimento e desenvolvimento do capitalismo.

- Aumento extraordinário do comércio de mercadorias e, portanto, acúmulo e mobilização de capitais: fortunas produzidas pelos artigos do Oriente e os metais preciosos da América;

- Criação de sociedades por ações (Inglaterra, Holanda) e das bolsas de mercadoria (Antuérpia, Lyon);

- Desenvolvimento do sistema bancário (os Médicis em Florença, etc) e das operações: depósitos, empréstimos, facilidades de crédito (letra de câmbio, cheque);

- Rejeição do sistema corporativo, por parte das novas indústrias (mineração, fundição, indústria da lã, etc.) e desenvolvimento das empresas pelos inventos e progressos técnicos; [“os instrumentos e o maquinário pertenciam aos capitalistas, enquanto os operários eram meros percebedores de salários, submetidos aos azares dos acidentes, do desemprego e das moléstias profissionais”];

- Produção industrial pelo sistema doméstico, ou de encomenda (antecessor da fábrica); e aparecimento das manufaturas (fábricas), que vão substituindo as indústrias domésticas.

O ouro americano e os progressos do capitalismo.

Ao surgir o capitalismo, os metais preciosos deixaram de ser somente mercadorias, com utilidade em si mesmas – mas tornaram-se meios de pagamentos, isto é, medida de riqueza. Aumentou, pois, o meio circulante e os mercadores puderam pagar as compras em moeda. Ademais esse padrão de riqueza tornou-se internacional: foi aceito em todas os países.

Ascensão da burguesia e declínio da nobreza.

Banqueiros, comerciantes e industriais pertenciam à classe burguesa. Desta forma, a burguesia foi crescendo em poder e importância, e começou a exigir os direitos políticos que ainda lhe eram negados. Os nobres e o alto clero continuavam na posse das terras, dos latifúndios e dos lucros da exploração agrícola. Mas seu poder econômico começou a decair. E, com isto, foram perdendo a força de classes dominantes.

A Revolução Francesa trouxe a vitória final da burguesia.

 

O autor é Professor de Economia

 

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