O Nazismo
- Sex, 26 de Agosto de 2011
- Seção:
- Categoria: História da Civilização
Ricardo Bergamini
Causas
Caos, na Alemanha, após a I Guerra Mundial; sentimentos de humilhação em conseqüência da derrota e desejos de “revanche”; excessiva severidade, talvez do tratado de Versalhes (como se a Alemanha tivesse sido a culpada exclusiva da guerra); inflação catastrófica de 1923. (Em agosto, um dólar custava um milhão de marcos. Em novembro, a cotação chegou a dois milhões e meio de marcos – por dólar); militarismo; ardente nacionalismo; medo do bolchevismo (nas eleições de 1923, os comunistas obtiveram seis milhões de votos, ou seja: 1/7 do total); profunda depressão econômica. Mais de oito milhões de desempregados.
Ascensão do Nazismo
1919 - funda-se o partido Nacional-Socialista (abreviado, em alemão – nazi), em cujo grupo incluía-se Hitler; 1923 – fracassa o golpe nazista em Munique. Hitler é preso e, na prisão, escreve o Mein Kampf (Minha Luta); 1933 – o presidente Hindenburg, ante a pressão de banqueiros e industriais, nomeia Hitler chanceler do Reich. Após a morte de Hindenburg (1934), Hitler proclama-se “füher” (guia) da Alemanha – e instaura a tirania nazista.
Características do Nazismo
São semelhantes à do fascismo italiano, mas com o acréscimo do fundamento racista: superioridade da chamada “raça ariana” (da qual seriam máximos expoentes – os alemães), “a única em toda a História, que tinha feito contribuições notáveis para o progresso humano” – e destinada a dominar o mundo inteiro.
Sentimento esse, já existente antes da I Guerra Mundial, como aponta Haddock Lobo: “Desde os primeiros anos do século XIX – nunca será demais relembrá-lo – prestigiosos filósofos vinham pregando que à raça germânica caberia dirigir a humanidade no sentido do verdadeiro progresso. Sob a influência dessas teorias, entusiasmados pelas gloriosas e recentes vitórias (1870), e pela eficiência de sua organização bélica, profundamente impressionados com as próprias conquistas científicas, técnicas e econômicas, certos da superioridade de sua cultura, acabaram se convencendo os alemães de que constituíam, realmente, um povo predestinado a governar o mundo”.
E, mais adiante, comentado o nazismo: “A raça alemã, o Herrenvolk (povo de senhores), precisava, porém, de Lebensraum (espaço vital), para se desenvolver e finalmente cumprir suas gloriosas tarefas. Precisava também de colônias, e tinha o direito de ir buscá-las pela força, já que ninguém lhas queira devolver. Essa força – afirmava o Führer, peremptoriamente – a Alemanha a possuía, baseada na superioridade de sua cultura, de sua técnica, de sua organização e da capacidade pessoal dos seus filhos. E assim se preparava o espírito de muitas dezenas de milhões de homens para uma das mais arrojadas e trágicas aventuras da História”.
Outros Pontos da Doutrina Názi
Repulsa ao tratado de Versalhes e à Liga das Nações; necessidade da “revanche” contra a França; reconquista das regiões perdidas e das habitadas por alemães (pangermanismo: a Grande Alemanha); dissolução dos partidos políticos, com exceção do partido nazista; combate encarniçado aos socialistas, comunistas, pacifistas e liberais; ódio e perseguição mortal aos judeus e descendentes de judeus (seis milhões foram assassinados em campos de concentração); desprezo pelo trabalho intelectual; simpatia e consideração especial pela classe camponesa; economia dirigida (e dedicada, principalmente, ao re-armamento).
Seqüência Cronológica do Avanço Nazista
1935 – denúncia do tratado de Versalhes. Restabelecimento do serviço militar; 1936 - tropas alemães ocupam a Renánia; 1937 – os nazistas apóiam as tropas franquistas (aviões e encouraçados alemães bombardeiam cidades espanholas em poder dos republicanos); 1938 – invasão e anexação da Áustria (“Anschluss”). Conferência de Munique: política de apaziguamento por parte da Inglaterra e da França. Hitler obtém a região dos sudetos (Tchecoslováquia); 1939 - invasão e ocupação da Tchecoslováquia (março). Invasão da Polônia e começo da II Guerra Mundial (1de setembro).
A Gênese Filosófica do Totalitarismo
“Nas suas origens íntimas, os regimes totalitários revelam-se como um ímpeto de reação contra os males do liberalismo filosófico, político, social e econômico, males que contribuíram decisivamente para a quebra de unidade religiosa, política e social da Europa, a partir do Renascimento”.
“Em síntese, o liberalismo: recusa um valor absoluto e supremo (donde o relativismo, o ceticismo, o subjetivismo); separa a moral e o direito de Deus (criando uma ética humanitária); posterga o direito natural ao positivismo jurídico; separa a cultura da metafísica e da religião (não se conceitua mais o homem integral, mas sua inteligência e razão somente: intelectualismo; introduz o individualismo e substitui o ideal comunitário pelo internacionalismo e interesse de classes – acentuam-se os “direitos”, omitindo-se os deveres; cria a economia livre (livre concorrência desenfreada, exploração do homem, capitalismo abusivo); cria o burguês sentimentalista e comodista, que repudia a abnegação, a renúncia, a virilidade”.
“Os regimes totalitários, por sua vez, divinizando os bens criados – Estado, Partido, Chefe, Raça, Nação – procuram falsamente substituir os valores desalojados pelo liberalismo” (Alfredo Mattar).
O autor é professor de economia.