Karl Marx e o Chamado Socialismo Científico
- Sex, 26 de Agosto de 2011
- Seção:
- Categoria: História da Civilização
Ricardo Bergamini
Karl Marx (1818-1883), descendente de judeus, mas batizado na infância, nasceu em Tréveris (Treves), na Prússia Renana. Em 1841 obteve o título de doutor em filosofia, na Universidade de Iena. Em 1847 ingressou na Liga dos Justos (mais tarde Liga dos Comunistas), cujo antigo lema (“Todos os homens são irmãos”) trocou pelo brado de guerra “Proletários de todos os países, uni-vos!”.
Em colaboração com seu íntimo amigo e discípulo Friedrich Engels (1820-1895) redige o “Manifesto Comunista”, que é publicado em Londres, em 1848 (primeiramente em idioma alemão). Enquanto o Manifesto estava sendo impresso, estourou na França a Revolução de Fevereiro. Nesse mesmo ano, acusado de participação nos movimentos liberal-revolucionários da Prússia, Marx é expulso da Alemanha. Desde então, vive quase sempre em Londres. Aí publica (1867) o primeiro volume da sua erudita e complexa obra “O Capital”. Após sua morte, publicam-se mais três volumes, baseados em manuscritos revistos por Engels.
Manifesto Comunista
A fim de acabar com as injustiças sociais, a opressão do proletariado, e “a exploração do indivíduo pelo indivíduo”, o Manifesto prega a abolição do sistema tradicional de propriedade privada. Diz, porém, que “o comunismo não tira a ninguém a faculdade de se apropriar dos produtos sociais; ele apenas suprime a faculdade de escravizar, mediante essa apropriação, o trabalho alheio”.
O Manifesto, “programa básico do movimento marxista”, preconiza, entre outras, as seguintes medidas:
- Centralização, nas mãos do Estado, de todos os meios de produção (terras, minas, fábricas), do crédito (banco nacional e monopólio exclusivo do crédito) e de todas os meios de transporte; expropriação da propriedade latifundiária; impostos fortemente progressivos; abolição do direito de herança; estabelecimento do trabalho obrigatório para todos; educação pública e gratuita.
No trecho final, o Manifesto declara: “Numa palavra: os comunistas apóiam, em toda parte, qualquer movimento revolucionário contra a ordem social e política existente”. Coloca, porém em primeiro plano, a questão fundamental do movimento comunista – a propriedade – “seja qual for a forma, mais ou menos desenvolvida, que ela haja assumido até aqui”. E conclui: “Os comunistas, enfim, trabalham em toda parte pela união e entendimento dos partidos democráticos de todos os países. Os comunistas negam-se a dissimular suas idéias e seus projetos. Declaram abertamente que não podem atingir seus objetivos, se não destruindo pela violência a antiga ordem social. Que as classes dirigentes tremam com a idéia de uma revolução comunista! Os proletários nada têm a perder, além das correntes que os aprisionam. E têm um mundo a ganhar. Proletários de todos os países, uni-vos!”.
A Obra de Marx
Além de líder e propagandista revolucionário, Marx foi filósofo e economista. Nesse último aspecto (especialmente na economia política), é que assentam o seu renome e a sua vasta influência moderna.
Como economista, Marx é o mais famoso dos dissidentes, isto é, dos que se opõem às teorias econômicas clássicas, ou ortodoxas. (Expoentes fundamentais da economia clássica: Adam Smith, Ricardo, Malthus, Stuart Mill). Os dissidentes estudam mais o processo econômico do que o equilíbrio econômico.
A obra de Marx não é inteiramente original. Há nela diversas influências (Hegel, Ricardo, Saint-Simon, Proudhon, Louis Blanc). Mas ele foi o primeiro a combinar todas essas idéias num amplo sistema econômico, político e social. Afirma um competente economista norte-americano: “Como economista, Marx criou um sistema tão completo, abstrato, sutil, complexo e difícil de ser entendido – como apenas dois ou três economistas ortodoxos conseguiram criar” (Gambs).
“Seja qual for a opinião que possa merecer o movimento desencadeado por ele, é preciso reconhecer que Marx era um economista profundo e um historiador sagaz” (J. L. Romero). “Sua doutrina da interpretação econômica da História é admitida até por historiadores que não são seus adeptos” (E. M. Burns).
Mas, mesmo entre os esquerdistas (socialistas, trabalhistas britânicos) há vozes discordantes: “Marx e o socialismo têm muito pouco em comum. O principal valor de Marx, para o socialismo, não repousa na sua teoria econômica – e sim no fato de ele ter feito perceber a classe trabalhadora que a História estava do seu lado” (Normam-Thomas).
O autor é Professor de Economia