TOLERÂNCIA TEM LIMITE

Sáb, 27 de Agosto de 2011
Seção:
Categoria: 1964

*Ernesto Gomes Caruso


O Comandante-em-chefe da Marinha chilena, Almirante Jorge Arancibia reagiu com veemência à ordem judicial de prisão domiciliar imposta ao General Augusto Pinochet, que não a cumpriu, naturalmente com respaldo das forças democráticas daquele país. As preocupações do decidido Comandante, afirmando que a postura do juiz estava levando a sua Pátria de volta ao "pântano" do qual parecia estar em vias de se libertar e que tal gesto não conduziria aos propósitos de superar o confronto, nos levam – brasileiros cônscios da necessidade de união contra as ameaças externas – a refletir sobre as posições assumidas pelo Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, quando determina o afastamento de algum auxiliar que é acusado de ter participado da repressão às ações terroristas e de guerrilha urbana e rural, a serviço do comunismo internacional, por eles próprios listado como torturador.

A posição firme do Almirante Arancibia não foi isolada pois o Comandante-em-chefe do Exército General Ricardo Izurieta propôs a convocação do Conselho de Segurança Nacional, diante da instabilidade criada. Mesmo sem um posicionamento desse Conselho, foi suspensa a ordem de prisão do General Pinochet. O Presidente Ricardo Lagos, sem nenhum desdouro para a sua indiscutida posição de Chefe Supremo das Forças Armadas, se reuniu com os chefes militares. Fizeram questão de declarar que não há confrontos de qualquer ordem contra o Presidente, mas sim preocupação com as tensões internas.

No Brasil tem sido diferente, em especial, com aqueles que não ocupavam os postos de mando, mas que enfrentaram os dissabores próprios das lutas fratricidas, cada parte defendendo os seus ideais e cumprindo as ordens dos seus superiores hierárquicos, nos desdobramentos do Movimento de 31 de Março de 1964. Àqueles que se entregaram ao perigo do combate, mortos e feridos, em defesa da democracia contra o irracionalismo da submissão às regras da soberania limitada impostas pela então União Soviética, devemos uma enorme gratidão, pois nos livraram de uma possível "força armada revolucionária brasileira", com sua zona liberada na Amazônia, do modo tristemente assistido pelo mundo de hoje, protagonizado pela esquerda do país vizinho, com as ações das Forças armadas revolucionárias colombianas(FARC). Os fatos confirmam. É interessante lembrar que os perdoados pela anistia, atualmente, na administração pública, no Congresso e nos Executivos, discutem os aspectos da segurança do Estado brasileiro, voltados para a fronteira norte, tomando providências para que muitos dos seus "colegas" colombianos, formados nas mesmas escolas de Cuba, Argélia e Albânia, não se infiltrem em nosso território. Pensam em voz alta: "Que burrada nos levaram a fazer. Ainda bem que fomos derrotados".

Parem de perseguir os vencedores, que lhes deram uma lição. Tenham a humildade de entender o passado, por conta da anistia recíproca. Será que vocês se esqueceram do tenente da PM, morto a coronhadas, para que um tiro não revelasse as suas posições? Até quando vão continuar essas mesquinhas atitudes? Acham que vão estar eternamente no poder?

Lá no Chile, pode ser que a solução venha através uma prescrição médica. Aqui existe uma lei de anistia que está sendo desrespeitada, beneficiando apenas os litigantes de um lado, perdoando-os e até premiando-os, sendo alguns confessos pelos crimes cometidos. Cabe às autoridades militares uma ponderação junto ao Governo sobre tais atitudes. Não se pode alegar que os cargos de confiança são preenchidos por livre escolha do Executivo, se suas razões para demitir militares remontam às ações pretéritas, meras acusações da lista de um livro. Mesmo que fossem verdadeiras, foram perdoadas por lei. Mas, se de todo não convencerem a quem lhes ofereceu uma posição de relevo na administração pública, saiam juntamente com seus subordinados. Não se apeguem ao cargo de forma exagerada, maculando suas expressivas folhas de serviço, nem lavem as mãos como Pilatos. As posições dúbias marcam profundamente. Não permaneçam com esses radicais. Não deixem enxovalhar a vida daquele militar, como lemos nos jornais, que é derrubado; consegue se erguer na estação seguinte, com esforço próprio e sacrifícios de toda ordem; se levanta novamente, para, em seguida, receber outro golpe. Até quando, senhores? Basta de sordidez. Tolerância tem limite.

ESCRITO E DISTRIBUÍDO EM 7/12/2000

* O autor é Coronel do Exército da reserva. Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.