Depoimentos sobre o movimento cívico - militar de 31 de março de 1964

Sáb, 27 de Agosto de 2011
Seção:
Categoria: 1964

Está página foi aberta para depoimentos de todos os participantes, civis e militares, do movimento cívico-militar de 31 de março de 1964, com o objetivo do resgate da verdade histórica. Participem!!!!!!!!

"POVO QUE NÃO RESPEITA SEU PASSADO E SUA HISTÓRIA NÃO É DIGNO DE FUTURO"

"Qualquer semelhança com o maldito momento atual da vida brasileira, não é mera coincidência"

Depoimento do General de Brigada reformado Luciano Salgado Campos

 31 de MARÇO na AMAN

Desde 1961 – a partir do desdobramento da renúncia de JÂNIO QUADROS e os acontecimentos que levaram ao desgoverno GOULART - muitos militares começaram a admitir que teriam de violentar suas consciências democráticas e seus próprios princípios; e a se convencer de que teriam de fazer alguma coisa, com objetivos nobres, para salvar o País de se tornar uma ditadura comunista.

A situação política nacional tendia para o descalabro. Não só a ameaça comunista mas a corrupção que se generalizava em todos os setores, públicos e privados, - não tanto como hoje em dia, que, também generalizada, alcança até os altos poderes da República. Aliás, o processo de corrupção se enquadrava na estratégia do comunismo internacional, de criar-se uma situação interna com base na filosofia do quanto pior melhor, para os seus objetivos malsãos. É também o que ocorre hoje, com os comunistas no Governo.

Começou-se a discutir o assunto, a confabular, a conspirar, em todos os níveis do oficialato e mesmo entre muitos graduados que, confiantes nos seus chefes e nas suas próprias convicções, não se deixavam levar pela pregação sub-reptícia que lhes faziam para conquistar-lhes a adesão à causa que eles, os apátridas, defendiam. E o trabalho preparatório teve início; cuidadosa e seriamente, pelo BRASIL..

Um entendimento perfeito ia se processando, quando o Comandante da AMAN determinou a um dos seus oficiais, do Estado Maior da ACADEMIA, fazer uma Palestra - realizada, primeiro, para oficiais e cadetes e depois, com o sucesso alcançado, para subtenentes e sargentos. O assunto era a DEMOCRACIA: sua definição, suas virtudes, as vantagens de sua prática, - único regime político, com fundamento em nossa história e tradições, consentâneo com a formação do BRASIL. Isso seguido de um extensivo alerta sobre a ameaça que nos rondava, de sairmos do regime democrático e de nos tornarmos um país comunista, a exemplo de CUBA. A palestra era uma preparação para o futuro imediato que estávamos prevendo e perseguindo nos nossos anseios e cuidados. Valeu.

Como todos daquela época nos recordamos – e está registrado nos jornais de então - a Nação estava em desordem, insegura, fora da lei, praticamente à matroca, como o queriam os seguidores da filosofia bolchevista, cuja orientação e recursos vinham principalmente de CUBA.. Além disso, a nossa preocupação dominante, naquele momento, era a quebra da disciplina e da hierarquia nos quartéis e navios, pilares da organização militar, em razão do trabalho insidioso que se fazia, ao que concluíamos, com o interesse e o apoio do próprio Governo. A população, em sua grande maioria, temerosa e revoltada; a inflação galopante; a insegurança, o quase desespero. E sua revolta e seu patriotismo resultam no clamor público, principalmente depois dos degradantes sucessos que foram o comício da Central do Brasil e a manifestação nos salões do Automóvel Clube ambos com a presença e o estímulo do Presidente da República - envolvendo graduados das Forças Armadas, além da bagunça dos marinheiros, inclusive levando aos ombros pelas ruas, aclamado, um Almirante Fuzileiro Naval. A revolta evolui para o clamor, que se vai caracterizar com a MARCHA COM DEUS PELA FAMÍLIA E A LIBERDAE . Um clamor vindo de todas as classes – a classe média principalmente, asfixiada pelas dificuldades de vida e as incertezas sobre o amanhã.. Era um clamor de toda a Nação, reclamando um BASTA!; e praticamente exigia dos militares que cumprissem o seu dever constitucional.

O que tínhamos era a incompetência de um governante fraco, despreparado, demagogo, deslumbrado pelo Poder que conquistara por artifício; joguete incapaz nas mãos dos comunistas e dos aproveitadores corruptos e corruptores, sem nem perceber o próprio perigo que corria. Dentro desse quadro da ameaça comunista e da corrupção se generalizando, reinando a impunidade e preocupando a todos, a Revolução foi o desfecho natural. Uma verdadeira Revolução pelo que tinha de propósitos, de corrigir e renovar. Para mudar, acertar as coisas e não permitir que se continuasse como estava. E não um golpe, um simples golpe para tomar o Poder, como pretendem os derrotados, frustados pelo tempo perdido para o usufruto das benesses do Poder e seus intentos malignos. Uma Revolução que resultou dos anseios e do clamor público. Foi tão natural, pois tão necessária, que nem precisou de um planejamento meticuloso, com todas as previsões de medidas que deveriam ser tomadas. Mas que foram tomadas ao sabor dos acontecimentos, à base de decisões de conduta. Sem uma organização perfeita, foi uma explosão da vontade e disposição para a luta imediata. Para o que desse e viesse. E deu e veio, com uma vitória rápida e inevitável, pois o governo de então estava podre por seus próprios erros. O próprio desencadeamento foi consequencia de um rompante de valentia, de incontida ansiedade, que despontou em MINAS, num momento que não era ainda o decidido, sem mesmo a necessária coordenação com os outros núcleos de conspiração dos grandes centros, como RIO e S.PAULO. Mas tinha o apoio inconteste da população.

Tivemos notícias do ocorrido (que esperávamos, mas não para aquele dia) no fim da tarde do 31 de Março de 1964. Corremos todos para a ACADEMIA, prontos para nossa participação. E vale destacar que todos, oficiais e praças, estivemos presentes, sem exceções, prontos para a luta, a qualquer preço, pois chegara o momento ansiado. Quanto à AMAN, não temos dúvida de que foi a preparação planejada e executada pelo Comando da Academia, à frente a figura extraordinária de chefe e líder, o General MÉDICI, o qual veio a ser o grande Presidente que foi; que enfrentou e venceu a guerra subversiva do início dos anos 70. Na verdade, houve momentos de preocupação, com algumas notícias que nos chegavam, inclusive de que o Regimento Escola de Infantaria (o REI), subia a serra, completo, vindo do RIO na direção de S, PAULO, fiel ao Governo. Então, ocorre uma decisão histórica: o General MÉDICI determina barrar o REI nas alturas de BARRA MANSA.. E o fez, sob sua única responsabilidade, empregando os próprios cadetes, jovens que formava para serem oficiais, os quais cumpriram a missão com dedicação e grande entusiasmo. E o REI não passou. Mas o Grupo Escola de Artilharia, que vinha atrás em apoio à infantaria do REI, ultrapassou o Regimento e, de lenços brancos acenando, veio para o nosso lado, recebido com festas na Academia, reforçando nossas forças.

De início, as notícias de S. PAULO não eram muito tranquilizadoras. Não se sabia ao certo o que esperar do II EXÉRCITO, de S. PAULO. Mas cedo chegou o General AMAURY KRUEL, seu comandante, para participar da situação na região de RESENDE/ BARRA MANSA. E foi na sua presença, ao lado o General EMILIO GARRASTAZU MÉDICI, que o General ARMANDO DE MORAIS ÂNCORA, em nome do então Ministro da Guerra – General JAIR DANTAS RIBEIROI (já enfermo) apresentou a rendição das tropas até então fieis ao Governo. Foi o ato final, pois que as tropas que tinham partido do RIO para enfrentar os revolucionários sob o Comando do General MOURÃO FILHO, já se tinham bandeado, aderindo à nossa causa, pelo BRASIL, como, de resto, ocorreu em todo o País. Daí, a exploração do êxito, culminando com o domínio da área, inclusive o controle total da Cia SUDERÚRGICA NACIONAL., um dos maiores focos da infiltração comunista.

SOMOS CONVENCIDOS DE QUE CUMPRIMOS O NOSSO DEVER PELA PÁTRIA!

Fortaleza, 31 de Março de 2001