Sinopse do Livro - "1964 - Uma Revolução Perdida".

Sáb, 27 de Agosto de 2011
Seção:
Categoria: 1964

*Raymundo Negrão Torres


ÍNDICE

- PRÓLOGO
- Cap 1 - REFRESCANDO MEMÓRIAS
- Cap 2 - A REVOLUÇÃO BRASILEIRA
- Cap 3 - O PECADO ORIGINAL
- Cap 4 - O DIREITO DE GREVE
- Cap 5 - REFORMA AGRÁRIA
- Cap 6 - MINISTÉRIO DA DEFESA
- Cap 7 - AS SEMENTES DO AI-5
- Cap 8 - OPERAÇÃO LISÍSTRATA
- Cap 9 - COMBATE NAS TREVAS
- Cap 10 - A TORTURA
- Cap 11 - A CORDIALIDADE AMEAÇADA
- Cap 12 - MAO VISTO POR SEU MÉDICO
- Cap 13 - DA AP À CNBB
- Cap 14 - O MST SEM MÁSCARA
- Cap 15 - DA NOVA REPÚBLICA AO GOVERNO FH
- Cap 16 - A CLASSE POLÍTICA
- Cap 17 - REFORMA CONSTITUCIONAL
- Cap 18 - O BONDE DA HISTÓRIA
- Cap 19 – A CRISE DA ENERGIA ELÉTRICA
- Cap 20 - COLÔMBIA: UM NOVO VIETNAME?
- Cap 21 - AS VIVANDEIRAS
- Cap 22 - BRASIL! MOSTRA TUA CARA!

- - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PRÓLOGO

Por muitos motivos o 31 de março do ano de 1964 tornou-se um marco importante na história brasileira e uma data polêmica.

Para René Dreifuss, em uma interpretação preconceituosa e ideologicamente deformada, 1964 foi o resultado de um bem executado uso dos militares em um golpe, para a tomada do poder do Estado pelo capital internacional - ou seja, a burguesia internacional - contando com o eficiente apoio da burguesia cabocla, mobilizada em torno do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), em São Paulo, e do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBADE), no Rio de Janeiro.[1]

Para outros - ainda afetados pela síndrome da inferioridade colonial -, foi uma conspiração comandada pela Casa Branca e pelo Pentágono, para impedir uma nova Cuba em seu "quintal" latino-americano, colocando a seu serviço militares golpistas e a direita reacionária e latifundiária nacional, temerosa das "reformas de base" do governo Goulart, facilitada - segundo Jacob Gorender - "pelo erro das correntes de esquerda, marxista e não marxista, em não se prepararem, nem aos movimentos de massa (por elas) organizados, para o combate armado contra o bloco de forças conservadoras e pró-imperialistas, que de há muito visavam ao golpe de Estado e o articulou de maneira planejada".[2]

Para o ex-ministro Roberto Campos, foi o resultado do clamor da classe média que, asfixiada pela estagnação econômica e pelas dificuldades impostas ao sistema econômico, pediu "uma intervenção missionária e um autoritarismo de transição, para restaurar as instituições democráticas ameaçadas pelo radicalismo da esquerda".[3]

Para o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, o movimento de 1964 foi o somatório dos reflexos da Guerra Fria, da crise econômica, da incompetência e fraqueza do governo e do medo das elites em relação aos rumos do país. Segundo ele, o Brasil tinha mudado e as instituições políticas não tinham sido capazes de responder a essa mudança. Aqueles que tinham vontade de mudar - como era o caso do atual presidente, segundo confessa - tinham, na época, menos compromisso com a democracia e os que tinham compromisso com a democracia, tinham menos compromisso com as mudanças.[4]

Por sua vez, o almirante Floriano Faria Lima, tempos depois primeiro governador do Estado do Rio de Janeiro depois da fusão, e que na época, como capitão de mar-e-guerra, servia na Escola Superior de Guerra, afirma que o movimento que depôs Jango foi um fato único, pois ninguém o planejou. A sociedade praticamente exigiu o movimento de 64, que foi uma coisa espontânea e que começou a ser realizada independente de qualquer ordem, de qualquer ligação entre os chefes militares daquela época.[5]

Num enfoque marcado pelo viés ideológico de antigo guerrilheiro do PC do B no Araguaia, o deputado do PT, José Genoíno Neto, atribui a tomada do poder pelos militares em 1964 ao resultado de um longo processo histórico, onde a crise de rumos da sociedade brasileira foi afetada pelo radicalismo decorrente da Guerra Fria e da luta pelas reformas de base. Reconhece que a falta de habilidade do que chama de "forças populares" criou a crise da hierarquia nas Forças Armadas e deu legitimidade ao golpe, num primeiro momento.[6]

Em 31 de março de 1964, aos dezoito anos de idade o metalúrgico Luiz Inácio da Silva, o Lula, achava que o golpe era uma coisa boa, pois para os seus companheiros mais velhos na Metalúrgica Independência, onde trabalhava, "o Exército era uma instituição de muita credibilidade, uma coisa sagrada " e os comentários que ouvia eram: "Agora vai dar certo e vão consertar o Brasil e acabar com o comunismo".[7]

A esta altura e tendo em conta a vasta bibliografia já existente sobre o movimento de 31 de março e seus desdobramentos, temos que concordar com o general Leônidas Pires Gonçalves que declarou que "o 64 cada um conta do seu jeito, com a maior sinceridade"[8], embora alguns o façam com certas falhas de memória, completo eu.

Mas para mim, o que vivemos naquele momento histórico está resumido e traduzido na pergunta que ouvi de meu filho Pedro, de 16 anos, ao chegar em casa num certo dia daqueles idos de março, e depois de meu expediente trabalho e incertezas como major, chefe da Seção de Informações do Quartel-General da 5a Região Militar, em Curitiba:

- Pai, até quando o Exército vai tolerar isso?

Não soube o que responder. Na verdade, ninguém sabia; nem os majores, nem os coronéis, nem os generais. Hoje, esse filho já não vive. Se vivo fosse, a pergunta certamente seria outra:

- General, por que perderam tão grande oportunidade de passar o Brasil inteiramente "a limpo" e "foram entregar o ouro aos bandidos?".

Pergunta igualmente difícil e embaraçosa e sobre a qual muito tenho meditado e cogitado. Indagação, principalmente de muitas e complicadas respostas que tenho procurado descobrir nos livros que leio e nas pesquisas que faço e que tento reproduzir nos livros que tenho escrito e em artigos publicados em jornais. Muitas dessas nossas perplexidades são velhas de 40 anos e refletem-se em certas perguntas que não encontram respostas até hoje, tais como:

Por que aceitou o general Castello Branco assumir a Presidência apenas para completar o mandato de João Goulart, quando sabia que a massa falida que iria administrar era imensa e uma tarefa para muitos anos?

Por que os generais-presidentes que se seguiram não continuaram o caminho iniciado por Castello, com o Estatuto da Terra e as idéias que foram consideradas "um novo e verdadeiro trabalhismo?".

Por que não se fez uma radical reforma do Judiciário e de nossos velhos e ultrapassados códigos, necessidade destacada e mencionada por Médici em seu discurso de posse, um revolucionário programa de governo que acabou ficando só no discurso?(Parte desse discurso foi incluída na quarta capa)

Por que não se completou a grande e necessária reforma do ensino?

Por que houve tanta complacência com comprovados corruptos?

Por que o revanchismo fez questão de destruir o que de bom se fizera, rotulando tudo como "entulho autoritário", coisas que hoje procura ressuscitar?

São algumas das perguntas que tento responder neste livro que deixo nas mãos de meus eventuais e pacientes leitores, com veracidade e franqueza.

Curitiba, 31 de março de 2002.

[1] - 1964 - A conquista do Estado, Editora Vozes.
[2] - Combate nas trevas - 5a edição - Editora Ática - 1998 - pag. 286.
[3] - Depoimento a Ronaldo Costa Couto, in Memória viva do regime militar, Editora Record - 1999 - pag. 36.
[4] - Idem, pag. 45
[5] - Idem, pag. 167.
[6] - Idem, pag. 221.
[7] - Idem, pag. 250.
[8]- Idem, pag. 232.


O autor é General reformado. Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.


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