O Socialismo

Ricardo Bergamini

Mais do que pesquisar leis econômicas, ou realizar a prosperidade nacional (mercantilismo, fisiocracia, economia clássico-liberal, etc), o socialismo visa promover a justiça e a paz sociais. As doutrinas socialistas se opõem ao liberalismo, ao individualismo, ao capitalismo e à exploração do homem pelo homem.

Antecedentes Históricos. Utopias literárias

O coletivismo espartano, baseado nas chamadas leis de Licurgo (século IX a. C), tinha características de regime comunista. Platão (século IV a. C), no seu diálogo “A República”, idealiza uma sociedade, cuja divisão do povo em classes se baseia, não no nascimento ou na riqueza, mas na capacidade intelectual de cada indivíduo. Nesse Estado ideal, que Platão julga a melhor forma de governo, há três categorias de homens: os filósofos (que governam), os guerreiros (que protegem o Estado) e os trabalhadores (que trabalham, como escravos, para manter as outras duas classes). Entre os filósofos e guerreiros não haveria propriedade privada: tudo seria usado em comum.

Sir Thomas More, na “Utopia” (1516), imaginou uma sociedade ideal, num regime de comunhão de bens. E combateu a propriedade privada, como causa primordial da maldade humana.

Na “Cidade do Sol” (1623), o filósofo italiano Tommaso Campanella advogou a teocracia e preconizou uma sociedade comunista. Na “Nova Atlântida” (1624-1629), de Francis Bacon, a ciência é o instrumento da felicidade universal. Para o norte-americano James Harrington, autor de “Oceana” (1656), a propriedade – sobretudo da terra – é a base do poder político. Ele defende a idéia de que um mesmo homem somente deve permanecer por pouco tempo na chefia do executivo. A obra (mais um tratado do que um romance) exerceu profunda influência no pensamento político norte-americano. Também houve utopias de essência cristã: “Christianopolis”, de J.V. Andreae, e “Nova Solyma” de S. Golt (1648).

Dois séculos mais tarde, o francês Etienne Cabet descreve um país comunista ideal na “Viagem à Icária” (1848). O austríaco Theodor Hertzka, inspirado em idéias socialistas, escreve duas novelas utópicas (1890 e 1893) sobre comunas ideais na região central da África. Poucos anos depois, H.G. Wells publica a sua “Utopia Moderna” (1905).

Socialismo Utópico

O primeiro tipo de socialismo que se propôs curar os males do mundo, foi o utópico. O socialismo utópico (também denominado “espiritualista” ou “romântico”) propugnava a fundação de comunidades-modelo, baseadas em sistemas coletivos. Herdeiro do Iluminismo, o socialismo achava que a reforma econômica da sociedade melhoraria os homens.

Entre os socialistas utópicos destacaram-se Saint-Simon, Fourier e Owen. Embora diferentes em muitos aspectos, suas idéias convergiam no associacionismo liberal e no desejo de emancipar, não somente o proletariado, mas toda a humanidade. Julgavam irracional e injusta a economia capitalista do mercado, baseada na concorrência e idealizavam substituí-la pelo reinado da razão e da justiça eternas.

Em decorrência da Revolução Industrial – e da conseqüente proletarização das massas operárias – houve, além de manifestações teóricas, uma série de experimentos sociais, de cunho prático.

Coletivismo e Cooperativismo

Robert Owen (1771-1858), natural de Gales, foi figura destacada na filantropia, no sindicalismo, no cooperativismo e nos experimentos de socialismo utópico. Fabricante de tecidos criou em New Lanark (Escócia) uma empresa e uma comunidade modelares. Nessa época, nas fábricas de algodão o período de trabalho era de 15 horas diárias; e trabalhavam até meninos de seis anos. Owen elevou a idade mínima para dez anos; e reduziu as horas diárias de trabalho a onze.

Owen propugnava a organização da sociedade em comunidades cooperativistas, com salários proporcionais às horas de trabalho. A fim de tentar a realização do seu ideal socialista, criou sete comunas cooperativistas. As mais famosas foram a de Orbiston (Escócia) e a de New Harmony (Indiana, Estados Unidos). Todas fracassaram em pouco tempo e Owen perdeu, nesses experimentos, 80% de sua fortuna.

 

O autor é Professor de Economia

 

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