O absolutismo na França

Ricardo Bergamini

O século XVI tinha sido o da hegemonia da Espanha. O século XVII foi o grande século da França.

Assassinado Henrique III (1589), o último dos Valois, sobe ao trono o francês Henrique IV (1589-1598), o primeiro monarca da dinastia dos Bourbons. Henrique IV era protestante, mas converteu-se ao catolicismo, a fim de agradar a maioria dos seus súditos.

Em 1598 assinou o Edito de Nantes, que concedia liberdade de culto aos protestantes (“huguenotes”) e direitos políticos (em igualdade quase total com os católicos), inclusive garantias jurídicas e militares. O Edito de Nantes é um documento fundamental na história da tolerância religiosa.

Assassinado Henrique IV (1610), é coroado seu filho Luís XIII, com nove anos de idade. Assume a regência Maria de Médicis, mãe do pequeno rei. Luís XIII foi declarado maior em 1615, mas continuou afastado do governo efetivo. Em 1624, o cardeal Richelieu é designado chefe do Conselho do Rei (cargo correspondente ao atual primeiro-ministro). Richelieu traçou a seguinte e gigantesca tarefa: arruinar o partido protestante, humilhar e subjugar a nobreza, e restabelecer o poder exterior da França. O programa foi plenamente realizado.

Luís XIII morreu pouco depois (1643). Sucedeu-lhe Luís XIV que tinha, então, cinco anos de idade. A rainha-mãe, Ana D’Áustria, nomeou chefe do Conselho de ministros o cardeal Mazarino, italiano de humilde origem, que governou a França até sua morte (1661). Mazarino era simples, amável e tolerante. Terminou com suma habilidade diplomática a política externa de Richelieu: tratados de Wesfália (1648) e Paz dos Pireneus (1659).

Ao morrer Mazarino (1661), Luís XIV declarou que, daí por diante, ele mesmo seria o seu primeiro-ministro. Empunhou as rédeas do governo e tornou-se o modelo do soberano absoluto.

Em 1685, Luís XIV assinou uma das leis mais nefastas do reinado: a revogação do Edito de Nantes. Em conseqüência fugiram do país muitos dos seus súditos mais inteligentes e prósperos. Milhares de famílias (umas 200.000 pessoas) preferiram abandonar os lares e a pátria – a ter de abjurar das suas crenças. A produção francesa sofreu, então, um rude golpe. E foram beneficiados os países que asilaram os fugitivos: Inglaterra, Holanda e principalmente a Prússia.

O luxo da corte, as enormes despesas e as constantes guerras – arruinaram a economia da França, esgotaram suas finanças, diminuíram sua energia, seu poder e seu prestígio. “O glorioso reinado de Luís XIV, escreve Malet, terminou como costumam terminar quase todos os reinados gloriosos, isto é, com grandes fracassos militares e com ruínas espantosas. A situação da fazenda pública tinha chegado a ser lamentável, pois as entradas eram cada vez menores e o déficit chegava a 80 milhões de libras – acrescente-se que a dívida pública subia a quase 3.000 milhões de libras – quase uns 2.400 milhões de dólares. Finalmente, em conseqüência do irresistível peso dos impostos, a miséria tinha chegado a ser quase geral em todo o reino. A França parecia completamente aniquilada”.

 

O autor é Professor de Economia

 

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