Nova Fase do Comunismo Soviético

Ricardo Bergamini

Em 1934 começou uma nova fase do regime, considerada, em geral, mais conservadora. Eis alguns fatos característicos: torna-se a pagar juros pelos depósitos de dinheiro; o governo emite obrigações com prêmios; aumenta a desigualdade nos salários (de 100 a 6.000 rublos por mês); há restrições nas leis do casamento, do divórcio e na permissão do abortamento; restauram-se os conceitos de patriotismo e nacionalismo, o que, em conseqüência, leva à reorganização e ao fortalecimento do exército.

Em 1936 é aprovada uma nova constituição, na qual se estabelece sufrágio universal, sendo o voto secreto. Estabelece-se uma união de 11 repúblicas – a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

A Constituição garante aos cidadãos: direito ao emprego, ao descanso, à assistência na velhice ou em caso de invalidez. Também se garantem os tradicionais privilégios liberais: liberdade de palavra, de imprensa, de reunião e de religião. Todavia, essas liberdades são restritas, em vista de só ser permitida a existência de um único partido – o comunista. O Estado, por sua vez, faz intensa campanha anti-religiosa.

Nos últimos anos foram quase inteiramente abolidos o comércio e a indústria particular. As fábricas, minas e estradas de ferro pertencem ao Estado. Alguns armazéns pertencem a cooperativas de produtores e consumidores; os demais são do Estado. Na agricultura, 10% das terras são fazendas do Estado; os restantes são fazendas coletivas (“kolkhozes”).

Características e Realizações do Comunismo Soviético

A organização comunista baseia-se no sistema do soviet (“conselho, assembléia”). Os sovietes são órgãos político-administrativos constituídos por operários, camponeses, soldados e marinheiros, desde as unidades de base (das fábricas, fazendas, quartéis e navios), até o Supremo Soviete.

O socialismo da União Soviética (comumente chamado “comunismo”) proclama existência, na sua sociedade, de uma classe única: a dos trabalhadores (quer braçal, quer intelectual). Pela Constituição soviética, o governo deve garantir trabalho a todo cidadão, de acordo com a sua capacidade; e meios de subsistência, de acordo com as suas necessidades e méritos.

Mesmo os que não concordam com o comunismo, reconhecem no regime soviético algumas boas qualidades. Autores insuspeitos anticomunistas admitem que não se pode negar ao socialismo soviético “algumas notáveis realizações a seu crédito”. Eis algumas delas: destruição de uma igreja corrupta e eliminação de torpes supertições; supressão dos ódios raciais; redução drástica do analfabetismo (de mais de 50%, para menos de 10%); oportunidades educacionais à grande número de pessoas do povo: 300.000 graduados, por ano, nas universidades soviéticas. Publicavam-se, anualmente, 70.000 livros diferentes (alguns em edições de milhões de exemplares). Havia 11.000 jornais, com uma circulação diária de 65 milhões de exemplares; progressos notáveis na agricultura, na indústria e no preparo bélico; economia planificada, “que funcionou com bastante êxito para impedir a superprodução”; excelente sistema oficial de assistência às mães que trabalham a aos seus filhos pequenos, bem como assistência médico-hospitalar gratuita.

Mas – acrescentam diversos autores – estas realizações foram obtidas a um preço muito elevado: o predomínio da indústria pesada a da fabricação de armamentos resultou na escassez de bens para o consumidor.

Ademais, o regime comunista estabeleceu sobre o povo uma tirania tão rigorosa e cruel quanto à do czar.

“Na verdade, dizem alguns autores, o número de suas vítimas condenadas à escravidão dos campos de trabalho excede, provavelmente, o número daqueles que os czares enviavam ao exílio, na Sibéria. E é significativo que quase todos os bolcheviques da velha guarda (com exceção do próprio Stálin), que tomaram parte na revolução de novembro de 1917, tenham sido mais tarde fuzilados ou desterrados”.

Política Internacional da URSS

Em 1934, a URSS ingressa na Liga das Nações. Em 1935 ratifica uma aliança militar com a França. Todavia, em agosto de 1939, a URSS e a Alemanha assinam um pacto de não-agressão. Nove dias mais tarde (1 de setembro), os nazistas invadem a Polônia, dando início à II Guerra Mundial. A 19 de setembro, a URSS também invade a Polônia; em novembro ataca a Finlândia.

 

 

O autor é professor de economia.

 

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