Depoimentos sobre o movimento cívico - militar de 31 de março de 1964

Esta página foi aberta para depoimentos de todos os participantes, civis e militares, do movimento cívico-militar de 31 de março de 1964, com o objetivo do resgate da verdade histórica.

Participem!!!!!!!!

"POVO QUE NÃO RESPEITA SEU PASSADO E SUA HISTÓRIA NÃO É DIGNO DE FUTURO"

"Qualquer semelhança com o maldito momento atual da vida brasileira, não é mera coincidência"

Depoimento do Coronel do Exército da reserva Francisco Jander de Oliveira




O CADETE E A REVOLUÇÃO

No Dia 25 de agosto de 1961, o Brasil foi tomado de assalto. Quando o Presidente da República, senhor Jânio Quadros, após participar da solenidade do Dia do Soldado, renunciara ao cargo em pleno início de uma gestão que se pronunciara alvissareira. Naquele dia, acontecia uma competição entre os times de basquete da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e o da Escola de Aeronáutica, como parte do torneio entre as três Escolas de formação de Oficiais das Forças Armadas, aí incluída a Escola Naval, quando foi baixada a ordem para que todos os cadetes se recolhessem à Academia, uma vez que o clima nos quartéis era de prontidão. A Academia efervescia, pois o Corpo de Cadetes e os oficiais lá permaneceram até que ordens superiores determinassem a suspensão daquela situação.

A evolução dos acontecimentos políticos prosseguia. Através do rádio de pilha, muito em voga à época, acompanhava-se atento as manifestações das mais altas autoridades do governo, em especial dos ministros militares, que se opunham a que o Vice-Presidente João Goulart assumisse o cargo em função de se encontrar na China chefiando uma delegação brasileira e das visíveis ligações deste com a esquerda e grupos peleguistas infiltrados na administração federal. O certo é que tal fato gerou uma grave crise político-militar, culminando com a oposição do governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, cunhado do Vice-Presidente e líder do movimento Cadeia da Legalidade, contando este com o apoio do comandante do III exército, General José Machado Lopes que preferiu se colocar do lado legal. Estava criado o impasse. Os ministros militares assinaram uma manifesto contra a posse de Jango. Mesmo assim, João Goulart toma posse e da reunião dos governadores surgiu a fórmula apaziguadora de emenda parlamentarista, embora não tolerada por aquele. Veio o Plebiscito e o Presidente Goulart recupera as prerrogativas presidencialistas como era de se esperar.

Um fato que pouquíssimos sabem e que se passou na Academia durante o período da crise e da propaganda da Cadeia da Legalidade: o comandante da AMAN, num ato liberal, determinou que os cadetes oriundos do Rio grande do Sul que desejassem retornar a aquele Estado em atendimento à solidariedade dos seus conterrâneos, podiam fazê-lo. A surpresa é que nenhum cadete viajou para o Rio Grande do Sul.

O ambiente na Academia era meio politizado, pois havia debates nos apartamentos com uma clara oposição ao governador do Rio Grande do Sul, além da "hostilização" que os cadetes egressos daquele Estado sofriam da parte dos demais. Mesmo assim, a vida acadêmica seguia ritmo normal com as aulas e as instruções táticas.

O governo empossado sonhava com o tal programa de metas para soerguer o país da crise econômica, face a alta inflação já em evidência.

O movimento comunista internacional infiltrava-se a passos largos e a presença russa em Cuba incomodava os Estados Unidos e seus aliados.

O sindicalismo brasileiro emergia com força, ensejando o nascimento de organizações que aninhavam elementos ligados ao governo e às ideologias exóticas.

A situação econômica comprometia em muito, favorecendo as greves constantes e diárias e com quebra-quebras nas ruas.

O próprio governo estimulou o solapamento das bases sustentadoras das Forças Armadas – a disciplina e a hierarquia – caracterizados pelo "motim dos marinheiros", a revolta dos sargentos em Brasília, o comício da Central do Brasil e do Automóvel Clube, além de outros eventos nos estados, como as Ligas Camponesas em Pernambuco e outros menores. Tudo isso favorecia ao clima reinante.

Na Academia, apesar das atividades de ensino e de instrução em que estavam engajados os cadetes, havia um estado de espírito exaltado, pois a renúncia de Jânio Quadros ainda era sintomática. Os discursos pelo rádio de alguns governadores (Carlos Lacerda, Adhemar de Barros, Magalhães Pinto e outros) serviram como motivação e alerta, e eram ouvidos nas horas após os estudos noturnos. "A marcha da família com Deus pela liberdade", liderada pelas mulheres paulistas, demonstrou a indignação do povo em relação ao governo e era acompanhada por todos. Sentia-se um clima de tensão na Academia. Dois manifestos foram distribuídos ao Corpo de Cadetes.

Na noite de 30 de março, após a passagem da revista normal do Corpo de cadetes, muitos foram para as salas de aula estudar, outros preferiram permanecer nos apartamentos estudando, embora ligados e acompanhando o desenrolar dos acontecimentos. Já tarde da noite, lá por volta das 02:00 para as 03:00h da madrugada aproximadamente, é dado o toque de alvorada, os oficiais adentraram nas dependências dos cadetes, acordando-os e informando-os do desencadeamento do movimento de 31 de março de 1964. No primeiro instante, os cadetes foram tomados de surpresa, talvez causada pelo cansaço dos estudos e do pouco repouso que tiveram na noite. Mas tão logo refeitos, houve como uma explosão de alegria e entusiasmo. Todos se confraternizaram e deram gritos de hurra. Os cadetes após fardados e em forma, foram se equipar e armar nos parques. Como primeira missão, foram empregados na defesa da Academia e adjacências. Na manhã de 31 de março, os cadetes de Infantaria, Cavalaria e Artilharia, deslocaram-se motorizados na direção de Barra Mansa para fazer frente à tropa de Regimento Escola de Infantaria que partira do Rio de Janeiro para barrar as ações do destacamento revolucionário que iniciara o movimento de Minas Gerais sob o comando do General Olímpio Mourão Filho. O estado de espírito era autenticamente revolucionário. Acresça-se a isso, a determinação do comandante da Academia, General Emílio Garrastazu Médici, quando se decidiu pelo emprego dos cadetes na revolução. A par disso, a indecisão do General Amaury Kruel, comandante do II Exército, que posteriormente aderiu ao movimento. O comandante do I Exército, General Armando de Morais Âncora, já se deslocava para Resende a fim de parlamentar com os oficiais generais na Academia. O restante do Corpo de Cadetes que permaneceu guarnecendo as instalações da Academia, formou em duas alas, à entrada do "campo de parada" para recepcionar os companheiros revolucionários que desfilavam com garbo e entusiasmo. A Revolução fora vitoriosa.

Cabe aqui relatar um fato isolado passado na manhã de 31 de março, logo após o rancho do café, quando os cadetes foram postos em forma e informados dos detalhes para o prosseguimento do movimento. À certa altura dos esclarecimentos finais, o oficial que falava para a "tropa de cadetes de Infantaria" dissera com ênfase e em voz alta: "se há algum cadete que não deseja participar da revolução, que dê um passo em frente!" Para surpresa de todos, apenas um companheiro do 2º ano de Infantaria optou por não participar, ao que, simultaneamente, foi-lhe dada a ordem de prisão e em seguida recolhido ao estado maior da Academia. Decorrido alguns anos depois e com o recrudescimento da "guerrilha urbana", esse mesmo indivíduo tornara-se um dos seguidores do Cap. Lamarca.

Nessas mais de três décadas passadas, os inimigos da revolução continuam a pregar a calúnia e a discórdia para confundir a opinião pública. A própria mídia tem divulgado esse temário. Esquecem que as verdadeiras vivandeiras procedem de outro enxame e sempre sobrevoaram os quartéis quando em dificuldades.

Neste 31 de março, os revolucionários comemoraram a passagem de mais um aniversário da revolução, de forma simples, dentro de um contexto solene e sem alarde, e não, como querem os notários detratores daquele movimento.

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